O Brasil é o pior país da América do Sul em termos de oportunidades o desenvolvimento de meninas, de acordo com um relatório divulgado nesta terça-feira pela ONG Save the Children, baseada nos EUA. Entre 144 nações avaliadas, o Brasil ocupa a 102ª posição do Índice de Oportunidades para Garotas. Em todo o continente americano, o país fica a frente apenas de Guatemala e Honduras no ranking que considera dados sobre o casamento infantil, gravidez na adolescência, mortalidade materna, representação das mulheres no Parlamento e conclusão do estudo secundário.
O documento dá destaque à posição do Brasil no ranking, “país de renda média superior, que está apenas ligeiramente acima no índice que o pobre e frágil Estado do Haiti”, listado em 105º. O relatório não divulgou tabelas, mas o gráfico deixa claro que o principal problema do país é a falta de representação parlamentar. Os dados utilizados pela pesquisa são os compilados pela União Interparlamentar, de acordo com os quais o Brasil ocupa a 155ª posição no mundo, com apenas 51 deputadas federais, entre os 513 parlamentares eleitos no pleito de 2014.
“Alguns países na América Latina têm performances piores nesses indicadores do que para educação e mortalidade materna”, pontua o relatório. “A República Dominicana e o Brasil são os casos em questão, ambos de renda média superior, que ocupam a 92ª e 102ª posição respectivamente, ligeiramente superiores ao Haiti. Ambos possuem altas taxas de gravidez na adolescência e casamento infantil”.
Esta última, aliás, é a principal preocupação da ONG. No mundo, uma garota com menos de 15 anos se casa, na maioria das vezes forçadamente, a cada sete segundos. Em casos extremos, identificados em países como Afeganistão, Iêmen, Índia e Somália, crianças com menos de 10 anos são forçadas a se casar.
— O casamento infantil começa um ciclo de desvantagens e nega às garotas oportunidades de aprendizado, desenvolvimento e de serem crianças — critica a ativista Carolyn Miles, presidente da ONG Save the Children. — Garotas que casam muito cedo muitas vezes não vão à escola e estão mais vulneráveis à violência doméstica, ao abuso e ao estupro. Elas ficam grávidas e têm filhos antes de estarem fisicamente e emocionalmente prontas, o que pode gerar consequências devastadoras para a saúde delas e dos bebês.
O Brasil contribui, e muito, para essa estatística. Estudo publicado ano passado pelo Instituto Promundo afirma que existem no país 877 mil mulheres, com idades entre 20 e 24 anos, que se casaram antes dos 15 anos de idade, colocando o país como o quarto do mundo em números absolutos. Além disso, cerca de 3 milhões de mulheres, entre 20 e 24 anos, relataram ter casado antes dos 18 anos. Na América Latina, apenas República Dominicana e Nicarágua possuem taxas superiores.
No mundo, a Índia apresenta o maior número de casamentos infantis, até pelo tamanho da população. Lá, 47% das garotas — cerca de 24,6 milhões — se casam antes dos 18 anos.
Acabar com o casamento infantil até 2030 está entre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, acordados pelas Nações Unidas. Porém, diz a ONG, se a tendência continuar, o número de casamentos infantis vai crescer dos atuais 700 milhões no mundo para 950 milhões até 2030 e 1,2 bilhão em 2050.
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