quinta-feira, 22 de abril de 2021

Cúpula do Clima começa com Brasil no banco dos réus


Fonte/Imagem: DW Brasil/T
homas Milz
Houve um tempo em que os demais países se voltavam para o governo brasileiro para quebrar um impasse e conseguir alcançar um resultado numa conferência do clima. Foi assim em 2009 em Copenhague, onde o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do francês Nicolas Sarkozy, salvou o encontro do fracasso. 

O soft power brasileiro, tradicionalmente baseado em futebol, samba e carnaval, havia então sido ampliado em uma competência nova e orientadora: liderança em política climática.

Hoje, à véspera da cúpula virtual do clima convocada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, acumulam-se as manchetes negativas sobre os problemas ambientais do Brasil.

No início da semana, 400 funcionários do Ibama declararam, em carta aberta, que as atividades de fiscalização estão paralisadas por causa de uma instrução normativa do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. A chefia do Ibama, afirmam, não tem interesse em proteger o meio ambiente.

Poucos dias antes a troca na Polícia Federal do Amazonas havia gerado manchetes. Lá, o superintendente Alexandre Saraiva havia enviado uma notícia-crime ao Supremo Tribunal Federal, na qual denunciava Salles por sabotagem da fiscalização ambiental.

E, como se não bastasse, o Imazon divulgou que o desmatamento na região amazônica chegou ao maior nível em dez anos para um mês de março.

Em meio a todas essas notícias negativas, não se sabe qual o efeito da carta do presidente Jair Messias Bolsonaro a Biden. Bolsonaro se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal até 2030. Para isso, porém, o Brasil necessitaria da ajuda dos Estados Unidos.

Nada de novo: em 2019 Salles já havia dito que o Brasil teria direito a 10 bilhões de dólares anuais dos valores para proteção de florestas prometidos no Acordo de Paris de 2015.

Nesta quarta-feira, o jornal O Globo noticiou um novo projeto do ministro do Meio Ambiente. Com dinheiro das nações industrializadas, ele pretende criar uma Força de Segurança Ambiental para substituir as atuais autoridades ambientais. ONGs ambientalistas não se mostraram empolgadas — elas supõem motivações políticas por trás da retirada de poder das autoridades ambientais.

Em meio a tudo isso faz sentido que o Fundo da Amazônia, financiado por Noruega e Alemanha, tenha sido congelado depois de Salles tentar excluir as ONGs da gerência dos projetos financiados.

Nada disso é desconhecido nas nações industrializadas. Principalmente na Europa, a imprensa dá amplo espaço para os problemas ambientais do Brasil. Declarações de que tudo está maravilhoso não vão livrar a cara de Bolsonaro e Salles na cúpula de Biden.

Na Europa também são conhecidos velhos truques, como simplesmente apresentar o desmatamento ilegal como sendo legal, e assim tornar absurda a promessa de combater o desmatamento ilegal.

Desse jeito o Brasil corre de risco de ser massacrado ao nível de um pária ambiental diante das câmeras do Zoom.

A carta aberta na qual 36 artistas, entre eles a cantora Katy Perry e o ator Leonardo DiCaprio, alertam Biden contra um acordo com Bolsonaro já dá uma ideia de como a situação poderá se tornar constrangedora.

Biden já havia sido alertado por uma carta semelhante de senadores democratas. No início de abril, organizações brasileiras também pediram a ele para que não feche acordos com o presidente brasileiro.

Tudo isso não significa que seja impossível alcançar um acordo. Mais provável é que os Estados Unidos e a União Europeia façam um jogo do tipo "bom policial, mau policial" com Bolsonaro: enquanto os europeus atacam de frente e ameaçam mais uma vez com o fim do acordo comercial com o Mercosul, Biden pode assumir o papel conciliatório e atrair Bolsonaro com bilhões para a proteção climática.

Para o governo Biden parece ser muito importante obter avanços na proteção climática. E, para isso, é preciso colocar o Brasil no barco, queira ele ou não. E apesar de Bolsonaro.

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