Fonte/Imagem: DW BR
A farmacêutica americana Merck, empresa que desenvolveu a ivermectina nos anos 1980 e até hoje é a principal fabricante, afirmou na quinta-feira (04/02) que não existem evidências sobre a eficácia do medicamento contra a covid-19.
Em comunicado publicado em seu site, a empresa afirmou que, segundo suas análises:
Não há base científica para um efeito terapêutico potencial contra covid-19 nos estudos pré-clínicos.
Não há evidência significativa para atividade clínica ou eficácia clínica em pacientes com a doença covid-19.
Há uma preocupante falta de dados de segurança na maioria dos estudos conduzidos para detectar se a ivermectina tem efeito contra a covid-19.
A partir dessas conclusões, a empresa afirma: "Não acreditamos que os dados disponíveis sustentem a segurança e a eficácia da ivermectina além das doses e dos grupos indicados nas informações de prescrição aprovada por agências regulatórias." Assim, o medicamento só deve ser usado para sua função original: como vermífugo usado para promover a eliminação de vários parasitas do corpo, e não como tratamento contra o coronavírus.
Remédio promovido por Bolsonaro
Mesmo sem evidências que apoiem seu uso contra a covid-19, a ivermectina, assim como a hidroxicloroquina – outro remédio ineficaz contra o coronavírus –, se tornou uma das drogas favoritas do governo Jair Bolsonaro. O presidente incentiva regularmente o uso do vermífugo como parte de um "tratamento precoce" contra a covid-19 e o remédio foi incluído nos assim chamados "kit covid" distribuídos pelo governo.
Em janeiro, o Ministério da Saúde chegou a lançar um aplicativo que recomendava o uso de altas doses de ivermectina, até mesmo em bebês. O app saiu do ar após uma enxurrada de críticas. No mesmo mês, Bolsonaro afirmou, sem apresentar dados, que a suposta baixa taxa de óbitos por coronavírus em países africanos tem relação com a distribuição em massa da ivermectina.
O incentivo de Bolsonaro e do Ministério da Saúde levou a uma explosão no Brasil do consumo de ivermectina e outros medicamentos sem eficácia contra covid-19. Um levantamento do Conselho Federal de Farmácia (CFF) mostrou em janeiro que as vendas de hidroxicloroquina duplicaram de 963.596 unidades em 2019 para 2,02 milhões em 2020. Já as vendas da ivermectina cresceram 557%. Segundo levantamento da BBC Brasil. o governo já gastou quase R$ 90 milhões para adquirir carregamentos de cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina, entre outros medicamentos sem efeito comprovado contra covid-19.
Na quinta-feira, durante sua live semanal, Bolsonaro admitiu que a hidroxicloroquina pode ser simplesmente "um placebo" contra a covid-19. "Pode ser que lá na frente falem: a chance é zero, era um placebo. Tudo bem, paciência. Me desculpa, tchau. Pelo menos não matei ninguém", disse.
No entanto, a hidroxicloroquina não é simplesmente um placebo. A bula do remédio lista uma série de possíveis efeitos colaterais, como diarreia, náusea, dor abdominal, falta de apetite, constipação, vertigem, tremor, febre, coceira, lesões de pele, entre outros.
A fabricante adverte, ainda, que o medicamento deve ser usado com cautela em pacientes com doenças hepáticas ou renais e com problemas cardíacos. Além disso, ele é contraindicado para crianças com menos de seis anos. Mesmo assim, o Ministério da Saúde promoveu seu uso até mesmo em bebês por meio de seu aplicativo.
Especialistas igualmente advertem que a política do governo em promover esses remédios sem eficácia tem incentivado uma falsa sensação de segurança entre parte da população, incentivando mais indivíduos a se exporem à covid-19.
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