Fonte: DW Brasil/ Thomas Milz
Os foliões se mostraram responsáveis e cancelaram o Carnaval. Enquanto isso, Bolsonaro se mantém firme na defesa de sua liberdade e se recusa a usar máscara. A grande festa deste verão é do Centrão.
"Eu sempre achei que o Carnaval fosse a época em que o mundo vira de cabeça para baixo. Em que os loucos tomam, por alguns dias, o poder. E que fosse a única época em que tudo é permitido. Agora, me parece que está tudo permitido, com ou sem Carnaval.
Fiquei surpreso, admito, com a responsabilidade que os organizadores mostraram ao cancelar a festa. O vice-governador do Rio de Janeiro ainda tentou inventar um Carnaval fora de época, em julho, para compensar as perdas econômicas. Mas os foliões se mostraram firmes, mesmo sabendo do sufoco pelo qual os trabalhadores do Carnaval estão passando. Abdicar de uma parte da própria liberdade em favor do bem comum é um gesto generoso, que é a base do processo civilizatório.
Enquanto isso, o presidente continua não disposto a fazer um gesto desses. Anda sem máscara e falando que não irá se vacinar. Certamente, ele acha que passa, com isso, um sinal de firmeza e de força. Mas o sentimento da maioria me parece diferente. Frente aos números de mais de 230 mil mortes pela covid-19, só os jovens fortões das baladas clandestinas se acham machos o suficiente para negar os cuidados básicos.
Ao mesmo tempo, observo sim uma mudança nas atitudes do presidente. Este ano não haverá um tuíte sobre "golden shower" para desqualificar o pessoal do Carnaval. Bolsonaro entendeu que as brincadeiras nas redes sociais não serão suficientes para garantir seu poder e as chances à reeleição em 2022. Para isso, ele precisa ganhar primeiramente a corrida das vacinas contra o governador paulista, João Doria. E precisa abdicar das críticas aos comunistas chineses, para garantir o fornecimento dos imunizantes.
E, em nome da reeleição, Bolsonaro assumiu de vez a "velha política", que ele criticou duramente em 2018, mas da qual nunca abriu mão. A entrada oficial do Centrão na cabine de pilotagem do governo segue uma tendência já histórica de ascensão do baixo clero dentro do Congresso brasileiro. Quando Severino Cavalcanti assumiu a presidência da Câmara, em 2005, era visto como a chegada do baixo clero ao poder. Custou caro aos governos Lula e Dilma precisar do apoio deles.
O próprio Bolsonaro tem sido um representante do baixo clero, transitando, ao longo de três décadas na política, de um partido fisiológico para o outro. Nada mais natural do que se juntar agora, na hora do maior aperto que ameaça sua presidência, ao baixo clero. De volta à pátria!
A grande surpresa desse movimento tem sido a fraqueza do centro tradicional. Tanto o DEM quanto o PSDB se deixaram rachar pelas avançadas de Bolsonaro. O presidente ganhou corpo para disputar 2022, enquanto a oposição a ele, tanto à esquerda quanto no centro moderado, anda com dificuldade de formar uma candidatura competitiva. Resta, para eles, observar com inveja as folias do Centrão."
0 comentários:
Postar um comentário