Fonte: CNTC
Na semana em que se comemora o Dia do Trabalho, a Câmara
discutiu em audiência pública a proposta que cria mecanismos de garantia de
igualdade entre mulheres e homens para coibir práticas discriminatórias nas
relações de trabalho urbano e rural (PL 6653/09).
O deputado Assis de Melo (PCdoB-RS), propositor do debate,
lembrou que, mesmo em pleno século XXI e apesar de presentes na legislação
brasileira regras destinadas à prevenção de práticas lesivas à dignidade das
mulheres, estas ainda são alvo de discriminação no mundo do trabalho.
“A proposição visa traduzir para norma infraconstitucional
os princípios constitucionais que asseguram às mulheres, entre outros, o
direito ao livre desenvolvimento profissional, sem prejuízo de sua vida
pessoal, e a permanência no emprego a partir do combate de todas as formas de
discriminações em razão de sexo, de orientação sexual, de diferenças de etnia e
de raça”, afirma o parlamentar.
A coordenadora da bancada feminina da Câmara dos Deputados,
deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), lamenta a pressão do setor empresarial para
atrasara a aprovação da matéria. “Este projeto está em tramitação na Casa desde
2009, já esteve na pauta de prioridades das deputadas nos últimos quatro anos e
a gente nunca consegue levar à votação. O objetivo central de realizar este
debate é para que se sensibilize a Casa, coloque na pauta o projeto e que se
consiga superar os obstáculos que têm impedido a votação”.
A deputada afirma que, ao contrário do que muitos acreditam,
a proposta não trará perdas para as empresas. “Há uma compreensão de alguns
parlamentares que vieram de uma experiência patronal de que o projeto
penalizaria muito os empresários. Mas isto não é verdade. O que queremos é que
as conquistas legais já asseguradas pela CLT desde a década de 30 possam se
efetivar. Nós teremos, com a aprovação deste projeto, uma sistematização dos
direitos da trabalhadora e, evidentemente, uma lei para ser efetiva precisa
conter algum nível de punição para quem descumpri-la. Nós queremos inibir o
descumprimento e não promover qualquer tipo de perseguição”, acrescenta.
O deputado Roberto Santiago (PSD-SP) falou em defesa das
mulheres comerciárias e também que espera que o projeto seja levado à votação
na próxima semana. “Vou falar como presidente da Frente Parlamentar em Defesa
dos Comerciários. Se tem uma categoria que é absolutamente prejudicada é a
comerciária. Elas trabalham de maneira exaustiva dentro dos estabelecimentos
comerciais, muitas vezes em condições precárias, sem ter o descanso merecido, e
enfrentam a injustiça de ter um trabalho igual com salários diferentes. Desta
forma fica estabelecido que a mulher é uma trabalhadora de segunda categoria.
Nós não podemos permitir em hipótese alguma qualquer tipo de diferença. Somos totalmente
a favor do projeto e estamos tentando colocá-lo na pauta, num esforço
concentrado em prol dos trabalhadores, na próxima semana”.
A procuradora do trabalho, Dra. Liziane Mota, ressaltou a
importância da audiência para a questão da afirmação do direito promocional das
mulheres. “A gente vive um momento de afirmação de uma nova fase que é o
direito promocional, ou seja, um momento em que são necessários não apenas
enunciar direitos, mas ações afirmativas. Esta audiência tem essa importância
exatamente por se tratar de um projeto de lei que traz em seu bojo essa visão
contemporânea da mulher no mercado de trabalho, que é uma política de visão
afirmativa. Por isso a importância também da participação do Ministério Público
do Trabalho neste debate”.
Dra. Liziane lembrou ainda a dificuldade em mudar a cultura
relativa à figura da mulher no mercado de trabalho. “É necessário uma mudança
de ordem cultural para desnaturalizar estas questões e retirar do campo da
questão biológica ou sexual. É no campo da cultura que se travam as diferenças.
Temos uma cultura machista, patriarcal, sexista, onde há uma divisão sexual do
trabalho, onde o trabalho dos homens é muito mais valorizado do que o das
mulheres. Onde as mulheres recebem remuneração menor, onde as tarefas
cansativas e repetitivas são relegadas às mulheres e aos homens as tarefas
intelectuais. As mulheres ainda trabalham em tempo parcial enquanto os homens
têm outra ascensão nas promoções. A mulher tem dificuldade tanto no acesso a
determinadas carreiras como na ascensão e promoção. É uma questão cultural a
ser mudada”, afirma.
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