05/11/2013 por Pátria Latina
por Nádia Lapa/Carta Capital online
Segundo a 7ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2012 foram registrados 50.617 casos de estupro no país, número superior ao de homicídios dolosos (47.136). Isso significa que, a cada dia, 138 vítimas vão à polícia relatar um estupro. Por hora, seis pessoas buscam o Estado para procurar justiça.
O post poderia terminar no parágrafo anterior. Estes números deveriam ser capazes (e espero que sejam) de deixar qualquer pessoa alarmada. Mais do que isso: deveríamos passar a pensar em nós mesmos, em como podemos mudar este panorama assustador.
O Anuário traz apenas dados registrados, de gente que falou a respeito do crime. Há incontáveis casos que ficarão para sempre escondidos, por medo, vergonha, culpa, e pela certeza de que o poder público, por meio de suas instituições, ainda não está preparado para lidar multidisciplinarmente com as vítimas de violência sexual. Uma prova disso? Depois de mais de 150 veículos de informação terem repercutido os dados do Anuário, nem a Secretaria de Direitos Humanos, nem a Secretaria de Políticas para as Mulheres, ambas da Presidência da República, se posicionaram a respeito das descobertas da nova pesquisa.
A quantidade assombrosa de estupros não surpreende feministas. Quem lida com isso no dia a dia sabe perfeitamente acerca da subnotificação dos crimes de caráter sexual. Muitas vítimas se culpam pelo que lhes aconteceu, enquanto outras muitas sequer sabem que o crime ocorreu; é o caso do estupro marital, quando a esposa transa com o parceiro, mesmo sem vontade, por acreditar que aquela é sua obrigação.
O Anuário traz uma estatística que temos acompanhado: houve um aumento de 18,17% nos casos de estupro registrados em relação ao ano anterior. E isso traz uma dúvida cuja resposta eu ainda não sei dar: os casos aumentaram, ou foi a notificação que subiu?
Certamente as campanhas de conscientização têm papel nisso, mas é só a elas que podemos creditar esse aumento espantoso? Duvido. O estupro tem uma função: “colocar a mulher no seu devido lugar”. Isto é: não saia sozinha, não use roupa curta, não ande em ruas desertas, não dê mole para qualquer um, não dê chance ao acaso. Alarmar as potenciais vítimas serve para fazer com que elas voltem para dentro de casa, mostrando que, se ela quiser ocupar espaços públicos, ela sofrerá uma "retaliação" (ignorando o fato de que a maior parte dos crimes é cometido por conhecidos da vítima).
Tira-se o foco de quem se deve: o estuprador. Não são só 50.617 estupros. São dezenas de milhares de estupradores. Não é o mesmo criminoso que ataca mulheres do Oiapoque ao Chuí, freneticamente. São muitos estupradores, milhares, que se satisfazem com a submissão, com o poder, com a humilhação da vítima. Coloquemos o foco nele. Há muito mais estupradores entre nós do que gostaríamos que fosse verdade. É o seu amigo do futebol, seu chefe, seu irmão. Não são monstros de aparência de filme de terror; são nossos parentes, amigos, parceiros, colegas de trabalho. Temos que começar a aprender a lidar com isso.
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