Ag Brasil - Elaine Patricia Cruz
Edição: Fábio Massalli
São Paulo - O atendimento às mulheres vítimas de violência é precário em todo
país. Essa é a conclusão da comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) que
investiga a violência contra mulheres e que esteve hoje (29) em São Paulo para
promover audiência pública sobre o tema.
Esse panorama foi traçado após a CPMI ter feito várias diligências pelos
estados de Pernambuco, Santa Catarina, Minas Gerais, Alagoas, do Rio Grande do
Sul, Paraná, Espírito Santo e de São Paulo analisando os equipamentos oferecidos
pelos poderes públicos e que são voltados ao atendimento das mulheres vítimas de
violência.
Segundo a relatora, a situação observada pela CPMI em São Paulo não é muito
diferente da encontrada nos demais estados. A senadora diz que para atender os
645 municípios paulistas, há apenas 129 delegacias especializadas na defesa da
mulher, 14 centros de referência e 23 casas de abrigo.
Para Ana Rita, São Paulo precisa renovar, até o final deste ano, o pacto
nacional estabelecido junto ao governo federal, em 2007, e que prevê um conjunto
de ações de enfrentamento à violência contra a mulher. “Esperamos que São Paulo
faça a repactuação até o final deste ano. Alguns outros estados já fizeram a
repactuação e estão se comprometendo com ações efetivas para o enfrentamento à
situação de violência [contra a mulher]”, disse.
A senadora Marta Suplicy (PT-SP), que faz parte da CPMI e acompanhou as
diligências feitas em São Paulo, fez críticas sobre o atendimento oferecido pelo
estado às mulheres vítimas de violência. "A situação em São Paulo é dramática
porque não existe Secretaria da Mulher, não existe conselho da mulher, não
existe coordenadoria da mulher”, disse a senadora.
Marta também reclamou que há poucas delegacias especializadas no atendimento
às mulheres no estado. "Eles fecharam algumas e as colocaram dentro de outras
delegacias. Quatro delas foram desativadas e jogadas dentro de delegacias, em
saletas, sem pessoas especializadas para atender", disse.
Procurada pela Agência Brasil, a Secretaria de Justiça disse
que está em estudo a criação de uma coordenadoria estadual voltada para
mulheres. Já a Secretaria de Segurança Pública confirmou que há 129 delegacias
no estado voltadas para a defesa da mulher, nove delas instaladas na capital, e
contestou a informação de que delegacias da mulher estariam sendo fechadas no
estado. “Nenhuma delegacia será fechada. Algumas delas estão passando pelo
projeto de reengenharia da Polícia Civil, que tem como objetivo promover
melhorias de condições de trabalho aos policiais, de atendimento ao público e
das investigações”, disse a secretaria.
A secretaria também informou que, desde 2008, há o Programa Bem-me-quer, que
permite que, a partir do registro de uma ocorrência de violência sexual, a
mulher ou a criança/adolescente de até 14 anos seja transportada da delegacia
até o Hospital Pérola Byington, na capital paulista, por veículos específicos
para este fim e assistidas por especialistas.
A Agência Brasil também procurou a assessoria do governo estadual, mas não
obteve retorno.
Investigação - A comissão funciona desde fevereiro deste ano
e foi criada para investigar a situação da violência contra a mulher no Brasil e
apurar denúncias de omissão do Poder Público. A intenção da comissão é visitar
os dez estados mais violentos do país para mulheres, além dos quatro mais
populosos.
De acordo com o Mapa da Violência 2012 (www.mapadaviolencia.org.br), divulgado pelo Instituto Sangari e
pelo Ministério da Justiça, São Paulo é o 26º estado do país em assassinatos de
mulheres. O estado mais violento para mulheres é o Espírito Santo, seguido por
Alagoas e Paraná. Entre todas as capitais brasileiras, São Paulo ocupa a 20ª
posição no ranking de homicídios femininos, com 4,8 mortes por grupo de
100 mil habitantes.
Dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informam que, em maio,
cinco mulheres foram assassinadas em todo o estado. Em quatro destes casos, foi
caracterizado homicídio doloso (intencional). Entre janeiro e maio deste ano, 42
mulheres foram assassinadas no estado.
Segundo a relatora da CPMI, o Brasil é o sétimo país em que mais acontecem
assassinatos de mulheres no mundo. Na última década, 43 mil mulheres foram
mortas em todo o país. Quase 70% dos homicídios contra mulheres ocorrem dentro
de casa, acrescentou a senadora.
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